No dia 2 de abril, o mundo se ilumina de azul para lembrar uma realidade que, para milhões de pessoas, não pode ser esquecida nem por um segundo: a vida com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No Brasil, ainda não sabemos exatamente quantos autistas existem, mas, se considerarmos a prevalência apontada pelo CDC em 2023 – 1 a cada 36 crianças –, podemos estimar mais de 5,6 milhões de pessoas no espectro em nosso país. Um número que, longe de ser apenas estatística, representa vidas repletas de desafios, superações e, muitas vezes, de uma dor silenciosa que poucos enxergam.
Se existe um grupo de autistas que frequentemente é incompreendido, são aqueles diagnosticados com nível 1 de suporte. Eles falam, trabalham, estudam e, muitas vezes, passam despercebidos – mas isso não significa que sua jornada seja mais fácil. Pelo contrário, justamente por não atenderem ao estereótipo do autista que muitos imaginam, enfrentam preconceitos e uma cobrança social exaustiva. É a realidade de quem precisa mascarar suas dificuldades para se encaixar em um mundo que não foi feito para eles.
O masking, ou camuflagem social, é a estratégia de imitar comportamentos neurotípicos para evitar exclusão e sofrimento. Muitos autistas aprendem a disfarçar suas dificuldades desde a infância, suprimindo sua essência para parecerem “normais”. Mas esse esforço tem um preço alto: ansiedade, depressão e um esgotamento emocional avassalador. Estudos mostram que adultos autistas sem deficiência intelectual têm nove vezes mais risco de morrer por suicídio do que a população em geral. Crianças autistas apresentam 28 vezes mais pensamentos de morte e ideações suicidas do que crianças neurotípicas. A solidão imposta pelo mundo pesa.
Além dos desafios emocionais, autistas enfrentam barreiras para conquistar autonomia. Dados mostram que mais da metade dos autistas adultos ficam desempregados ou fora do ensino superior por pelo menos dois anos após a conclusão do ensino médio. Para muitos, o primeiro emprego nunca chega. O estigma e a falta de adaptações no mercado de trabalho os deixam à margem, como se fossem invisíveis.
Educação: o caminho para um futuro mais inclusivo
Apesar de todos os desafios, há esperança – e ela começa na escola. O Censo Escolar 2023 revelou que o número de matrículas de alunos autistas cresceu 48% em um ano. Isso mostra que estamos caminhando, mas ainda há um longo percurso a percorrer. Muitas escolas e universidades não estão preparadas para receber esses alunos, seja por falta de capacitação de professores, por ausência de recursos de apoio ou por um desconhecimento generalizado sobre o que é, de fato, inclusão.
A escola não é apenas um lugar de aprendizado acadêmico, mas também um espaço onde autistas podem desenvolver habilidades sociais e emocionais essenciais para a vida adulta. Quando há um ambiente verdadeiramente acolhedor, com profissionais preparados e adaptações adequadas, os impactos são imensuráveis.
Construindo um Brasil mais acolhedor
O Aprender Criança, há 19 anos, trabalha para fazer do Brasil um país não apenas inclusivo, mas um lugar de acolhimento e desenvolvimento das potencialidades de cada criança, adolescente e cidadão. Acreditamos que o conhecimento é a chave para abrir a porta do futuro que idealizamos. É por isso que levamos aos profissionais da saúde e da educação os principais avanços da neurociência da aprendizagem, todos baseados em evidência. Porque nenhum autista – assim como nenhuma pessoa neuroatípica – deve ser deixado para trás.
No Dia Mundial da Conscientização do Autismo, refletimos sobre o quanto ainda precisamos avançar. A vida de um autista, independentemente do nível de suporte, não é uma escolha. Ninguém quer ser diagnosticado com TEA. O que todos querem é respeito, compreensão e oportunidades reais para serem quem são, sem precisarem esconder sua verdadeira essência.
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Que a conscientização sobre o autismo vá além do dia 2 de abril. Que se transforme em empatia, ação e mudanças concretas. Porque um mundo verdadeiramente inclusivo não se constrói com palavras, mas com atitudes.