No contexto dos transtornos do neurodesenvolvimento, como TEA (Transtorno do Espectro Autista), TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e Dislexia, crianças e jovens atípicos enfrentam desafios únicos em suas jornadas escolares e sociais. Infelizmente, essas diferenças também os tornam mais suscetíveis a comportamentos agressivos e excludentes, como o bullying e o cyberbullying. Essas formas de violência podem deixar marcas profundas em sua saúde emocional e mental, exigindo atenção cuidadosa e ação conjunta entre saúde e educação.
Por que as crianças atípicas são mais vulneráveis ao bullying?
As características que definem muitos transtornos do neurodesenvolvimento acabam, muitas vezes, por isolar crianças e adolescentes atípicos, tornando-os alvos fáceis de bullying. No caso de crianças com TEA, por exemplo, a dificuldade em entender nuances sociais, como duplo sentido, ironia e linguagem figurativa, pode torná-las mais ingênuas, literais e, consequentemente, vulneráveis. Elas muitas vezes não conseguem se defender ou compreender plenamente o que está acontecendo, o que facilita a ação daqueles que desejam praticar o bullying.
Aqueles com TDAH podem se destacar por sua impulsividade ou dificuldade em manter a atenção, o que pode gerar críticas, piadas ou até exclusão social por parte de colegas. No caso de crianças com Dislexia, dificuldades de leitura e escrita podem ser mal interpretadas, levando ao estigma de “preguiça” ou “falta de capacidade”. A intolerância à diferença, infelizmente, ainda é comum em muitos ambientes escolares, criando um ciclo perigoso de isolamento e baixa autoestima.
Cyberbullying: quando a violência não conhece barreiras físicas
No ambiente virtual, o bullying toma proporções ainda mais devastadoras. O cyberbullying pode ser ainda mais cruel, uma vez que as ações online, muitas vezes anônimas, permitem que as agressões atinjam a vítima a qualquer hora e lugar, sem a necessidade de interação física. Para as crianças atípicas, isso pode ser especialmente doloroso, já que, além de suas dificuldades sociais naturais, elas podem ser alvos de piadas, exclusões ou humilhações públicas, espalhadas rapidamente pelas redes.
O impacto emocional é imensurável. Depressão, ansiedade, fobia social e até pensamentos suicidas são alguns dos efeitos mais comuns para quem sofre bullying e cyberbullying, especialmente quando essas agressões são contínuas e não combatidas de forma adequada.
O papel fundamental da psicoeducação e da parceria entre saúde e educação
É aqui que a intervenção interdisciplinar se torna não apenas desejável, mas imprescindível. Profissionais de saúde, como médicos, terapeutas e psicólogos, precisam trabalhar em conjunto com educadores para promover um ambiente de inclusão genuína. Não basta apenas ensinar sobre bullying; é necessário um esforço coordenado para capacitar professores, coordenadores e toda a equipe escolar a reconhecer as necessidades das crianças atípicas e ajudar os alunos típicos a entenderem e respeitarem as diferenças.
A psicoeducação deve ser um componente central nas escolas, permitindo que os educadores aprendam a identificar sinais de vulnerabilidade e saibam como intervir de maneira assertiva. Os alunos típicos também precisam de orientação, para que desenvolvam empatia e compreensão genuína pelos colegas atípicos. Criar ambientes onde a diversidade seja celebrada, e não motivo de ridicularização, é um objetivo que só pode ser alcançado com a colaboração de todos: escolas, profissionais de saúde e famílias.
A missão do Congresso Aprender Criança na defesa das crianças atípicas
Desde a sua criação, o Congresso Aprender Criança aposta nesse trabalho interdisciplinar, reconhecendo que garantir a qualidade de vida e o pleno desenvolvimento das pessoas atípicas exige uma união de esforços. Somos profundamente comprometidos em promover o diálogo entre os profissionais de saúde e educação, com o intuito de construir ambientes onde as crianças com transtornos do neurodesenvolvimento possam florescer, sem o medo constante de serem alvos de bullying.
Acolher, respeitar e proteger. Essas são palavras que devem ecoar em cada escola, em cada casa. Para que isso se torne uma realidade, é preciso que todos nós – pais, educadores, profissionais da saúde – nos engajemos em ensinar às nossas crianças o valor do respeito à diferença, a importância de defender o colega que é mais vulnerável, e a beleza de uma sociedade que se constrói na diversidade.
O futuro de nossas crianças atípicas depende de nossa ação hoje. Juntos, podemos fazer a diferença. Vamos garantir que, em um futuro próximo, o bullying e o cyberbullying sejam apenas memórias distantes de um passado que superamos com empatia e coragem.
No Aprender Criança, essa é a nossa missão. E contamos com você para continuar escrevendo essa história.