Mulheres Neuroatípicas e a Luta pela Igualdade: Oportunidades, Invisibilidade e o Papel do Aprender Criança

Em 8 de março de 2025, a ONU reforça um compromisso global: garantir que nenhuma mulher ou menina seja deixada para trás. O tema deste ano – “Para TODAS as mulheres e meninas: Direitos. Igualdade. Empoderamento” – destaca a urgência de promover um futuro baseado na inclusão, especialmente para as mulheres neuroatípicas, que historicamente enfrentam desafios adicionais no acesso a direitos e oportunidades. A invisibilidade das mulheres neuroatípicas Estima-se que entre 15% e 20% da população global seja neuroatípica, mas o diagnóstico em mulheres ainda é subestimado. O Transtorno do Espectro Autista (TEA), por exemplo, é diagnosticado quatro vezes mais em homens, enquanto muitas meninas crescem mascarando características para se adequar às expectativas sociais. Essa realidade se reflete em diagnósticos tardios ou errôneos, impactando diretamente a saúde mental, a vida acadêmica e profissional dessas mulheres. Além disso, a neurodiversidade feminina é marcada por uma luta constante contra a falta de compreensão e acessibilidade. No ambiente de trabalho, muitas mulheres neuroatípicas enfrentam dificuldades de adaptação, preconceitos e uma estrutura que favorece padrões neurotípicos. Quando se tornam mães, as exigências sociais e a sobrecarga emocional se multiplicam. Segundo a neurologista infantil e da adolescência Marta Clivati, diversos fatores contribuem para essa subnotificação. Um deles é o desconhecimento de muitos profissionais da saúde e educação sobre as especificidades do autismo feminino, levando a interpretações equivocadas dos sinais clínicos. Os pais, por sua vez, tendem a desconfiar dos sinais apresentados pelas filhas e, muitas vezes, minimizam dificuldades como ansiedade extrema, medo de dormir sozinha ou dificuldades sociais, encarando-as como traços “normais” da personalidade. Também se percebe uma diferença na forma como meninos e meninas são observados no contexto familiar. Os pais geralmente demonstram maior preocupação com comportamentos atípicos em meninos, enquanto esperam que as meninas sejam mais dóceis e socialmente adaptáveis. Esse viés acaba retardando a busca por um diagnóstico adequado e, consequentemente, o acesso a intervenções precoces que poderiam melhorar significativamente a qualidade de vida dessas meninas. O desafio do diagnóstico tardio Muitas mulheres chegam à vida adulta sem saber que são autistas. Não é incomum que descubram a condição apenas após o diagnóstico de seus filhos, geralmente meninos. Ao perceberem similaridades entre seus comportamentos e os dos filhos, começam a investigar a possibilidade de estarem dentro do espectro. Esse fenômeno demonstra como a falta de informação e os estereótipos podem atrasar por décadas o reconhecimento da neurodiversidade feminina. Fatores culturais também exercem um papel significativo. As expectativas sociais fazem com que as meninas recebam mais apoio emocional e sejam incentivadas a desenvolver habilidades de socialização desde cedo. No entanto, com o passar do tempo, quando as demandas sociais aumentam, a dificuldade em manter esse esforço de camuflagem pode levar a quadros de exaustão, ansiedade, depressão e, em casos mais graves, ideação suicida e internações psiquiátricas. Fatores neurobiológicos e sociais no autismo feminino Segundo Marta Clivati, há hipóteses neurobiológicas que explicam por que o diagnóstico do autismo é mais complexo em mulheres. A teoria do cérebro masculino extremo sugere que os homens têm uma inclinação natural para a sistematização, enquanto as mulheres possuem um impulso mais forte para a empatia. Esse fator pode levar meninas autistas a desenvolverem estratégias compensatórias, escondendo suas dificuldades e aumentando o risco de serem mal compreendidas. Além disso, o chamado efeito protetor feminino pode estar relacionado às diferenças hormonais e genéticas, tornando os sinais do autismo menos evidentes em meninas e dificultando sua detecção precoce. Já no âmbito social, a necessidade de se adaptar às expectativas culturais resulta em estratégias de camuflagem, como copiar padrões de interação social, imitar expressões faciais e forçar contatos que não são naturais para elas. Com o tempo, essa “atuação” se torna desgastante, levando a quadros de ansiedade e burnout. A urgência da equidade: por que falar disso? A desigualdade de gênero vai além do contexto neurodiverso. Desde a infância, meninas são desencorajadas a sonhar grande. Elas recebem menos incentivo para explorar áreas como tecnologia e ciências exatas e são direcionadas para papéis tradicionais. Quando neuroatípicas, o cenário se torna ainda mais limitante: quantas inovações poderiam ter surgido se essas mulheres tivessem sido devidamente acolhidas e estimuladas? A ONU reforça que empoderar mulheres e meninas tem um efeito multiplicador. Quando garantimos inclusão e equidade, impulsionamos o desenvolvimento social, econômico e científico. O Congresso Aprender Criança, que há 19 anos reúne profissionais de saúde e educação (a maioria mulheres), está comprometido em fortalecer essa transformação. O Congresso Aprender Criança como agente de mudança Desde sua primeira edição, o Congresso Aprender Criança tem sido um espaço de troca, aprendizado e reconhecimento do papel fundamental das mulheres. Psicólogas, neurologistas, pedagogas, fonoaudiólogas e terapeutas ocupacionais lotam os auditórios e têm voz em debates sobre neurodesenvolvimento e inclusão. Ao dar visibilidade à neurodiversidade feminina, incentivamos políticas públicas mais inclusivas, pesquisas que considerem as diferenças de gênero no diagnóstico e tratamento e, sobretudo, a construção de um mundo onde todas as mulheres tenham seus direitos garantidos. Em 2025, reafirmamos esse compromisso. Pela equidade. Pela valorização da diversidade. Pelo fortalecimento real e duradouro. Clique aqui e junte-se a nós, você também, homem ou mulher que se compromete na construção de um futuro melhor para toda a humanidade!