Aprender Criança 2024

Dados do Trabalho


Título

AVALIAÇAO EM SAUDE MENTAL: DADOS DE PREVALENCIA DE CRIANÇAS DE 2 A 5 ANOS

Objetivos

o presente estudo buscou rastrear crianças com risco para problemas de comportamento relacionados à saúde mental e/ou de atraso no neurodesenvolvimento.

Material e Método

Método: Foi realizado um estudo transversal, descritivo e observacional, com uma amostra de 92 crianças de 2 a 5 anos, regularmente matriculadas na educação infantil, de uma escola municipal da cidade do oeste do estado de São Paulo. Os instrumentos utilizados foram o Child Behavior Checklist- CBCL -½-5 anos e o Austism Behavior Checklist-ABC (ICA). O CBCL -½-5 anos faz parte do Achenbach System of Empirically Based Assessment (ASEBA) - um sistema de avaliação empiricamente baseada, com mais de 6.500 publicações relatando pesquisas em mais de 80 culturas. O Inventário de Comportamentos para Crianças entre 1,5 e 5 anos – CBCL/1 ½-5 é composto por 99 itens acerca do comportamento da criança a ser respondido pelo responsável, baseando-se nos dois meses anteriores. Inclui o Questionário de Desenvolvimento de Linguagem (LDS) que rastreia atrasos de linguagem em crianças. A versão brasileira seguiu os padrões de tradução e adaptação de instrumentos. O instrumento indica possuir boa confiabilidade, sensibilidade e especificidade. Os resultados são apresentados em T-escore, por sete agrupamentos síndromes (Reatividade Emocional, Ansiedade/Depressão, Queixas Somáticas, Retraimento, Comportamento agressivo, Problemas com o Sono e Problemas de Atenção), três escalas (Problemas Internalizantes, Problemas Externalizantes, Total de Problemas) e por cinco agrupamentos orientados pelo DSM 5 (Problemas Depressivos, Problemas de Ansiedade, Problemas no Espectro do Autismo, Problemas de Déficit de atenção/hiperatividade e Problemas desafiadores de oposição). Nos agrupamentos o ponto de corte para ser considerado não-clínico é 65 e nas escalas, 60. A partir desses T-escores, o resultado é considerado clínico. Quanto maior o escore, mais problemas a criança apresenta, na visão do respondente (pai, mãe, avó...). O ABC/ICA é um questionário que contém 57 comportamentos atípicos referentes a cinco áreas: 1a: Estímulo Sensorial, 2a Relacionamento, 3a: Corpo e Uso de Objeto, 4a: Linguagem e 5a: Ajuda Pessoal e Social. Os comportamentos das cinco áreas foram distribuídos aleatoriamente num protocolo de registro no qual o observador assinala o comportamento presente na criança. Os pesos dos comportamentos assinalados como presentes são somados, por área e no total. Na proposta dos autores, quando o escore total atinge a somatória de 68 pontos ou mais a criança é classificada como autista. Escores entre 54 e 67 pontos são considerados de moderada probabilidade de classificação para o autismo. Escores entre 47 e 53 pontos são considerados duvidosos para classificar a criança como autista e quando os escores se encontram abaixo de 47 pontos a criança não é considerada autista. Na validação brasileira uma nota de corte igual ou acima de 48/49 indica que a criança tem suspeita de TEA. A versão brasileira seguiu os padrões de tradução e adaptação de instrumentos e o ABC/ICA indica possuir boa confiabilidade, sensibilidade e especificidade. Os dados foram coletados a partir das informações dadas pelos pais, mães ou demais cuidadores. Foram determinadas medidas descritivas para representar as médias, medianas e o desvio padrão dos obtidos nos escores dos agrupamentos/escalas, total do Child Behavior Checklist CBCL - ½-5 anos, e no escore total e nas áreas do ABC/ICA.

Resultados

Os resultados mostraram que a maioria das crianças (68%) não apresentaram problemas de comportamento. Das 92 crianças, vinte e três (25%) evidenciaram problemas comportamentais e emocionais, sendo 12(13,0%) meninas e 11 (11,9%) meninos. Uma criança (1,1%) foi identificada com suspeita de TEA. Na visão dos pais, das 92 crianças, 21 apresentaram problemas relacionados à dificuldade de atenção (23%), seis (6,5%) à problemas de déficit de atenção e hiperatividade, e 16 (17%) à problemas externalizantes.

Conclusões e implicações dos resultado

: A epidemiologia infantil concentra-se na análise das taxas de incidência e prevalência de transtornos em crianças e adolescentes, empregando amostras representativas da população geral; além disso, investiga os fatores que aumentam ou diminuem o risco desses problemas. Apesar do crescente interesse em pesquisas nessa área, ainda há lacunas significativas no entendimento da saúde mental de crianças bem pequenas. Estudos realizados em diversos países, indicam que 90% a 100% das crianças apresentam pelo menos um sintoma de problemas emocional ou comportamental. Dessas, 30% a 50% satisfazem os critérios diagnósticos estabelecidos pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5-TR), mas apenas 5% a15% dessas crianças experimentam sofrimento psíquico significativo. Os transtornos mais frequentes na saúde mental infantil incluem transtornos disruptivos, de controle de impulsos e de conduta, além de transtornos do neurodesenvolvimento como deficiências intelectuais, transtornos da comunicação, transtorno do espectro autista, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e transtornos específicos de aprendizagem, juntamente com problemas emocionais. Em países em desenvolvimento, a falta de dados precisos sobre a saúde mental infantil dificulta a implementação adequada de serviços e ações preventivas nesse campo. No caso específico do Brasil, apesar da carência de informações nacionais e regionais detalhadas, estima-se que entre 15% e 22% das crianças e adolescentes apresentem algum nível de comprometimento clínico em um dado momento indicando a necessidade de intervenção especializada. Esta pesquisa, realizada na cidade de Tarumã, Oeste do estado de São Paulo, Brasil, identificou as mesmas taxas de prevalência dos problemas de saúde mental infantil encontradas em outras regiões do Brasil (25%). Sabe-se que os problemas estão frequentemente relacionados a fatores como elevado estresse ambiental, renda familiar baixa, histórico de psicopatologias nos pais, exposição à violência urbana e comunitária, tanto como testemunha quanto como vítima, e experiência de violência doméstica. Quanto à prevalência desses transtornos, os estudos internacionais e nacionais indicam uma taxa de 5,29% para o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e de 2,3% para transtornos opositores e de conduta, dados estes que corroboram com os encontrados neste estudo (6,5% para TDHA e 1,1% para TEA). As taxas encontradas para sexo se mostraram bem maiores que na literatura (3,1% entre meninos e 1,2% entre meninas). Estudos epidemiológicos têm comprovado que os transtornos causam impactos negativos duradouros em diferentes ambientes como familiares, escolares e sociais, muitas vezes persistindo ao longo da vida devido à falta de detecção precoce e tratamento adequados.

Área

Transtornos em neurodesenvolvimento

Categoria

Educador

Instituições

Universidade Ibirapuera - São Paulo - Brasil

Autores

ISABEL BARROS PINTO, Juliana Augusta Bechelli Valadão Tonelo, Márcia Regina Fumagalli Marteleto, Marcia Siqueira Andrade